por: Natália Cavaleiro Costa
Muito se fala sobre o potencial impacto da cerveja na nossa dieta e sobre se esta bebida deverá, ou não, ser proibida para alguém que queira perder peso. Acredito que o segredo está no equilíbrio e, por isso, porque não pensar primeiro no valor nutricional da cerveja? Será que os seus elementos constituintes podem acrescentar algo à nossa alimentação?
Vamos por partes. Primeiro, importa saber quais os ingredientes necessários na elaboração da cerveja. A base é o açúcar, mas não se assuste. Quando falamos em açúcar falamos em amido que é um hidrato de carbono que vai ser degradado, isto é, fermentado, para dar origem à cerveja. No caso da cerveja que bebemos habitualmente a fonte é a cevada, mas há outras cervejas em que temos também o milho, o arroz ou o trigo. Apesar de o malte de cereal ser obrigatório em qualquer cerveja em Portugal, podemos ter também cervejas com elevados teores noutras fontes de açúcar. Por exemplo, já tive oportunidade de provar uma cerveja de batata. Claro está, nem todas as fontes de hidratos de carbono resultam em idêntica qualidade organolética do produto final.
O primeiro passo é fazer a germinação parcial da cevada. É colocada em cubas onde vai sendo molhada, iniciando-se o processo de germinação que não é completado na sua totalidade. Segue-se a secagem em duas etapas de temperatura diferentes que conferirão propriedades e características específicas, com cores caramelo torrado, mais claras ou escuras, avermelhadas, entre outras. Todo este processo dá origem ao malte e, como resultado, há maior biodisponibilidade dos nutrientes: o amido é dividido em açucares mais simples, que facilitam o processo de fermentação pelas leveduras para a produção do álcool e do gás carbónico da cerveja. Engane-se, por isso, quem pense que a cerveja não tem valor nutricional. Quem disse que a cerveja tem “calorias vazias”?
Já reparou que a cerveja é maioritariamente (90 a 95%) composta por água? A água é, de facto, mais um dos ingredientes principais da bebida e parte fundamental do seu processo de produção. Quando adicionada água quente ao malte, os açúcares e os aminoácidos que contém são libertados. É essa filtração que permite obter o mosto, um líquido transparente de cor mais ou menos dourada, rico em açucares e proteínas.
Outra das qualidades da cerveja é que não contém qualquer conservante ou preservante artificial. Essa função é assegurada pelo lúpulo que é adicionado ao mosto nesta parte do processo. A uma mistura extremamente doce é adicionada uma planta trepadeira, que pode ser considerada o seu tempero. É o lúpulo que dá origem ao amargor da cerveja, conferindo-lhe também as suas propriedades bactericidas e funcionando como conservante natural que aumenta a longevidade da bebida. É ainda o lúpulo que garante a presença de antioxidantes - os chamados polifenóis – na cerveja, conhecidos por terem um impacto positivo na saúde.
Finalmente, adicionam-se as leveduras. Estes pequenos microrganismos naturais promovem um processo de fermentação dos açúcares e aminoácidos presentes na mistura, dando origem a uma bebida final de alto valor nutricional: 90-95% de água, fonte de vitaminas do complexo B, potássio, magnésio e silício - importantes na vitalidade – e dezenas de diferentes compostos fenólicos importantes para a redução de processos oxidativos, com ação antioxidante e anti-inflamatória.
Segundo a tabela da composição dos alimentos do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, 200ml de cerveja têm cerca de 60 calorias que, como vemos, estão repletas de um valor nutricional que é útil ao nosso organismo. Se optarmos por uma cerveja sem álcool encontramos apenas 15 calorias, tendo acesso a todo o valor nutricional da cerveja, dispensado o álcool. Perfeita para acompanhar uma refeição ou no convívio entre amigos.
Desde que façamos escolhas conscientes e equilibradas, podemos incluir a cerveja na nossa alimentação. Venho, ou não, dar uma boa noticia?